sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Onde foi parar a minha alma?

 
Saudade dourada,  por Sergia A.
praia peito de moça - Luis Correia-PI
 

Eu tinha uma alma. E ela era pura. Trabalhava arduamente para isso. De joelhos, controlava os impulsos de manchá-la um pouquinho. Nada de mais, algumas nódoas de frutas roubadas dos quintais. Nada mais. E assim ela se conservava. Afastada do meu corpo. Aconchegada no colo dos deuses.

Eu tinha uma alma. E ela habitava em mim. Largou as nuvens brancas e se alojou na minha mente. Trabalhava arduamente pela sua coerência. O peito inflado de certezas que douravam minha racionalidade. Pouco importava se diziam ser fruto de processos inconscientes infinitos.  A ela entregava meus mais (im)puros sentimentos. Havia um super-ego, por sorte. E ela se conservava em mim. Afastada do meu corpo. Aconchegada em aura flutuante.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Espelho


 
Ilusão,  por Sergia A.
 
 
A lâmina inerte
 Do outro vago limiar
O registro inverte

 

sábado, 22 de setembro de 2012

Desejo de Renovação

 
Sonho verde amarelo, por  Sergia A.


Um dia desses uma amiga postou no facebook um desejo: precisava de um outono. Lembrei de um texto que escrevi aqui sobre a simbologia dessa estação e a universalidade da conduta humana em dadas circunstâncias. Hoje quero estendê-lo aos seres da natureza. Às vezes somos irremediavelmente iguais. Talvez um traço da evolução. Afinal, reagir a seus estímulos foi o que nos garantiu a vida e os avanços da inteligência. Somos fortemente influenciados por seus movimentos. Talvez por isso, eu tenha despertado no meio da noite com um desejo incontrolável: preciso de primavera.  

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Toque inevitável


Tocável,   por Sergia A.


As viagens sempre foram, para nós, investimento. Valiam e continuam valendo qualquer sacrifício. Depois de desvendar as diferenças regionais deste país continental, sentimos necessidade de ir mais longe. Foi assim que estivemos em Londres em dezembro de 1995. Elas, crianças, riam de tudo. Eu amedrontada, cismava do mesmo tudo. Sob o peso dos casacos, meus ossos tremiam. As botas de couro maltratavam meus pés habituados à liberdade das areias mornas. Elas, em seus tênis coloridos, deslizavam livremente sobre a novidade da neve.

O hotel simples ficava próximo ao Regent Park, o que facilitava muito a minha vida. Sem grandes programações nos permitíamos andar, despreocupadamente. Sentir o clima das ruas, o cheiro do novo. De vez em quando seguíamos um roteiro turístico curto. O prazer delas estava em primeiro lugar. Os monumentos passando e as figuras nas ruas era o que mais prendia a atenção. Ele negro, dread nos cabelos. Ela branca, pierces e correntes do nariz à orelha. Ele vestia uma túnica clara. Elas com véus escondendo os cabelos o seguiam poucos passos atrás. Yuppies, em ternos bem cortados, nos atropelando em sua pressa. A sonoridade das línguas orientais provocando ondas de risos intermináveis. O diferente existe e precisava ser visto, de perto, sempre que possível. Essa era a intenção.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

sábado, 8 de setembro de 2012

Instante

Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
o tempo que passou
mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo


(Renato Russo in Tempo Perdido)


Passado presente,  por Sergia A.
 

Abro os olhos e o momento se foi. Fecho os olhos e estou novamente na estrada que corta uma paisagem de rara beleza. Pontes, torres, braços de mar, barcos, lagos, velas. Cenários de sonho ou realidade momentânea. O sol que insiste em resumir a noite em poucas horas me faz perder a noção do tempo. E ele continua aqui, impávido, pairando sobre mim.

sábado, 1 de setembro de 2012