sexta-feira, 26 de abril de 2013

O risco da lua cheia


 
Céu de abril, por Sergia  A.
 

Nem lobos, nem uivos. Ainda assim, coisas encantadoramente inexplicáveis me acontecem de vez em quando. Com muito o que ler e escrever por esses dias em que os prazos se apertam fico assim de cara para a lua em busca de estrelas, enquanto o sol e as nuvens se digladiam.
 
Desvio com esforço o olhar para encontrar o foco e vejo-os ali na estante vigiando minhas incoerências. Não resisto. Abro uma página por acaso. Embarco em outro abril recheado de vazios sob o risco da lua. E qual não foi o meu espanto quando me deparo com datas/dias da semana/calendário lunar coincidentemente se repetindo. O ano é 1918. O tempo é de guerra e suas incertezas:

domingo, 21 de abril de 2013

Entre margens



Há coisas que não precisamos pensar nem decidir para fazer,
como se não apenas o mundo e o tempo, mas uma coisa nossa
lá dentro nos obrigasse sem nada consultar, e assim se faz sem
perceber, talvez sem querer. E imerso nesses devaneios o
caminhante viu-se sozinho novamente.

(Adriano Lobão Aragão in Os intrépidos andarilhos e outras margens)



Migrante,  por Sergia  A.




A chuva cai torrencialmente lá fora.  Tenho certo gosto por ouvi-la batendo forte no vidro da janela. Algo em mim desperta. Nada me remove da maciez em que me afundo. Elas entram sem bater. Abrigo-me confortavelmente entre elas. Adoro esses dias, agora que o tempo permite que eu me perca e me encontre entre suas margens com frequência. E elas me acertam a alma em cheio! Avanço em suas páginas. Distraio-me olhando fixamente o marcador.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Espelho II


 
Havana refletida,  por Sergia  A.


No novo, reflexos
do outro que sou para mim
sob olhos perplexos.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Cinco noites


Rodeada de mar por todas partes,
soy isla asida al tallo de los vientos...
Nadie escucha mi voz, si rezo o grito:
Puedo volar o hundirme... Puedo, a veces,
morder mi cola en signo de Infinito.
Soy tierra desgajándome... Hay momentos
en que el agua me ciega y me acobarda,
en que el agua es la muerte donde floto...
Pero abierta a mareas y a ciclones,
hinco en el mar raíz roto.
Crezco del mar y muero de él... Me alzo
¡para volverme en nudos desatados...!
¡Me come un mar batido por las alas
de arcángeles sin cielo, naufragados!


 (Dulce María Loynaz )


Praça da Revolução, por Sergia A.

Sem roteiro definido desembarco no aeroporto José Martí, movida por uma curiosidade que se conteve por décadas. Meus olhos habituados ao estímulo dos outdoors chamativos, letreiros brilhantes e vitrines luminosas de outras metrópoles vencem a estranheza e se adaptam lentamente à baixa quantidade de lumens das ruas e avenidas que me levam às proximidades do centro histórico de Havana. Sim, fujo da comodidade dos hotéis de grandes redes que se estendem pela orla e escolho uma acomodação legitimamente cubana. Um mojito me traz o sono e o descanso merecido depois de longas horas de conexões. Ali, na austeridade de um quarto sem telefone ou internet, às vésperas da Páscoa cristã, se inicia minha semana de luz.