Em escrever eu não tenho nenhuma garantia.
Ao passo que amar, eu posso até a hora de morrer.
Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera.
Eu vou ao encontro do que me espera.
(Clarice Lispector in A descoberta do mundo)
Ana Teixeira em Colônia/Alemanha
No meio da noite ainda escuto sua voz entrecortada por soluços. Ela derrama sobre mim os seus desencantos. Sou apenas ouvidos para as aflições da sua juventude. Contida, esboço um sorriso diante de sua trágica decisão sobre o amor. Quando o sol se levanta ela parte entusiasmada por novos acenos. Alívio. Ainda não foi dessa vez que se instalou a tal síndrome do coração partido, o nome que a ciência encontrou para justificar o que os poetas já afirmavam há séculos. Habituei-me desde cedo às narrativas das dores profundas das desilusões. Mas, há um ranço de teimosia dentro de mim que não me permite pensar no amor como causa mortis. Gosto de pensá-lo sempre como propulsor de vida.
Isso me vem à mente quando visito o site da artista visual Ana Teixeira. Interessada na subjetividade humana, Ana tem se dedicado à pesquisa da maneira como nos relacionamos ou como tecemos a narrativa de nossas próprias vidas. Em uma de suas intervenções/ações, que se estendeu por sete anos (2005-2012), ela percorreu diversos países para ouvir histórias de amor. Sentava-se em locais públicos a tricotar. Ao seu lado uma cadeira vazia e um cartaz que dizia em língua local: escuto histórias de amor. Como na vida, a intimidade das histórias não é revelada nas exposições, fica secretamente embutida no barulho das ruas, na sonoridade das línguas sobrepostas e na trama do tecido tricotado. Enquanto os narradores seguem com mais leveza os seus destinos, acredita o meu gosto pela vida. O que menos importa é se suas narrativas são alegres ou carregadas de dores.