(...) há essência nas substâncias criadas intelectuais, nas quais
o ser é outra coisa que essa essência, embora tal essência seja sem
matéria. Por isso o ser delas não é absoluto, mas recebido: donde
também, limitado e finito, conforme a capacidade da natureza recipiente.
(S. Tomás de Aquino in O Ente e a Essência p.84, trad. D. Odílio Moura)
A janela o café, por Sergia A.
Sim, estou me apropriando do título de uma novela que eu adorava. Assim como a novela se fez a partir do romance de Maria José Dupré (1943), que não li. Irmãos descobrindo o ser, sob a batuta de uma mãe zelosa. Sim, somos irmãs (se o termo significar ligação profunda). Arrebanhadas pela vida. Ao invés de sangue, temos sonhos comuns. Um deles nos traz até aqui. Estamos na nova ala de embarque do JK. Somos quatro direcionando o olhar ao longo corredor em busca da quinta. Ponho a jaqueta. O dia desperta frio. O café alimenta o tempo de espera. Espremida entre assentos de um avião a alegria juvenil. Somos cinco.
A chuva encobre parcialmente a beleza do cartão postal. O táxi nos abandona diante da escadaria de um prédio antigo. Os degraus se prolongam com o peso da mala. O cabelo se desmonta. Por instante sinto falta do profissionalismo da recepção de hotel, cuja impessoalidade decidimos evitar. A janela salva o dia. Em meio ao desespero, somos olhos embevecidos. São três horas da tarde. Somos seis ao redor de uma mesa de um bar antigo. José de Alencar é pouso para pombos. Getúlio em seu leito de morte, logo ali. Um chope para aproximar a sétima, cuja graça dispensa qualquer esforço. Aceitamos o convite perfeito para dia de chuva. Somos sete em uma alegre sala de estar. Um café, boas risadas, uma morada que respira arte abrindo portas para o abrigo de duas com passado comum.