e a época é política.
Todas as tuas, nossas, vossas coisas
diurnas e noturnas,
são coisas políticas.
(Wislawa Szymborska, in Filhos da época – Poemas p.77 – trad. Regina Przybycien)
A água, por Sergia A.
Novembro é lindo! Vivo repetindo pelos cantos. Ecoam trovões para afugentar o calor das tardes infernais. Isso, por si só, já me basta. Sem prejuízo das razões cantadas em outros novembros. Assentada a poeira, posso aspirar o cheiro do ar ainda úmido. Descobrir nas nuvens as nuanças do cinza. No intervalo entre uma palavra e outra fechar os olhos e sonhar.
No entanto, há no ar de novembro mais que o cheiro exalado pelas gotas que molham a terra seca. Inconformados com os rumos que o país deseja seguir (demonstrado nas urnas) golpistas mancham as ruas destilando um ódio gratuito. Vermelho vira cor proibida. Dobrar à esquerda um atentado ao pudor. Enquanto os derrotados, cegos de desejo, flertam com o fascismo na tentativa de abocanhar o que, por direito, não é seu.