sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Onde termina este mar?



O desafio: traduzir em palavras a leveza e volatilidade da arte da dança, aliada ao ritmo e ao balanço do mar. Ler Cecília Meireles foi o que me veio à mente de imediato. Depois lembrei de uma cena de férias em família. Estávamos na praia. Enquanto os outros enchiam baldes de areia, uma delas se posta em frente ao mar. Com as ondas beijando os pés cruza os braços, e do alto dos seus quatro anos me lança um olhar pensativo e diz: "onde termina este mar?"

Foi me dado o fio. Eis o texto.




ensaio geral, por Sergia A. 




Mar

Foi desde sempre o mar, sopra Cecília Meireles ao meu ouvido. Como brisa cálida que o movimento das ondas derrama sobre a areia, desalinhando cabelos e nos deixando mudos. Dele viemos, sopra a ciência depurando racionalmente nossa origem. A ele nos voltamos, sempre, olhares petrificados em contemplação ou no exercício aventureiro da arte de viver.


É apenas parte do todo dominante do planeta água, sopra a geografia. É oxigênio que faz da terra firme lugar habitável, favorecendo nosso caminhar. É o que avistamos em dias de sol e o que nos impede de ver o que seu fim alcança. Fronteira de outros mundos. Relevos desenhados pelo vai e vem infinito de sua dança desprendida.

Sobretudo, é o que nos desperta da vida adormecida em morno balanço, sopram os ancestrais. O que nos desafia a navegar, seja qual for a direção dos ventos. Ou, a mergulhar em um espectro de cores e formas. Pequenos segredos que ousamos pinçar da imensidão desconhecida. Riscos e encantos que se nutrem de rotas extensas e de profundidades. E só se revelam aos que se entregam ao ritmo do Mar.


***


[texto escrito para compor o espetáculo de dança Mar, produzido pelo Centro de Dança Mariana Alves nos dias 08 e 09 de dezembro/16, no Teatro 04 de setembro em Teresina-PI.]



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