quinta-feira, 8 de março de 2018

Entre montanhas e flores: as dores


I've learned that even when I have pains, 
I don't have to be one.

[Maya Angelou, poeta americana]



Cada morte de um jovem negro tem por trás uma mãe, uma irmã,
 uma companheira, uma família. As mães aparecem no momento
 em que sai a notícia e depois elas ficam sozinhas com suas dores.

[Nilza Iraci, Geledés - Instituto da Mulher Negra]




O telefone toca. Assusto-me como é de praxe. Aborreço-me por atender ao seu chamado estridente. Inquietante,  como a urgência que insinua. Do outro lado uma voz serena me diz que recebeu uma rosa branca na subida do ônibus, logo que pisou no asfalto. Um capitão em trajes camuflados lhe desejava um dia feliz. Um dia feliz, ela repetia... um dia feliz...   Acomodei minhas dores em água morna, para ceder lugar ao tamanho daquela voz. Depois de um café, lembrei que era oito de março. Escrevi:




uma flor amarela, por Sergia A.



a dor que dói não é dor de parto, que vem e vai e desaparece na expulsão. a dor que dói é a dor macerada em doses repetidas de não.

o não que dói não é o anunciado em voz grave, ainda que dissonante. o não que dói é o não marinado em silêncio ácido e gotejante.

o não que dói  se embala no aroma dos sussurros repetidos e, sutilmente, subverte a dor da expulsão.

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