terça-feira, 17 de abril de 2018

Oficina de microcontos II: Inverno



Ela quer um amor simples
feito café da manhã

[Zack Magiezi, notas sobre ela]




janela congelada, por Sergia A.



                   O café! (manchas na janela).
                   ...esfriou.



sábado, 14 de abril de 2018

Oficina de microconto



For sale: baby shoes. Never worn    

[Ernest Hemingway, a six word novel]     


flores na margem, por Sergia A.


Deram-me três palavras: Lago é profundo
rabisco outras três: Vago pela margem.
leio, ao comando.
poético! ouvi
deve ser o que sou.


sábado, 7 de abril de 2018

Liberdade, liberdade



Aproveita hoje, seu coração em festa
Amanhã
vai que a vida desembesta.


[André Gonçalves, Bandeirolas - Pequeno Guia das Mínimas Certezas]



sob o sol, por Sergia A.


Comecei a escrever este texto no dia em que o principio da Liberdade, estabelecido na Constituição de 1988, perdeu um grau na escala garantida pela Lei. A minha intenção era discorrer sobre o tema. Escrever como um exercício que me permitisse entender por que esse, que foi um bem tão precioso naquela década, agora se torna algo negociável e que pode se colocar abaixo de outros bens como a propriedade, como a moral messiânica de grupos, ou, simplesmente, como algo banal que perdeu o significado.

Fui atropelada pelos acontecimentos que se seguiram à madrugada que dividiu os dias 04 e 05 de abril. Achei por bem esperar a poeira assentar para que o pensamento me saísse organizado e sem precipitação. Pois bem, estou aqui na madrugada que absorve a desobediência civil do ex-presidente, como dizem muitos, e o meu sono não vem. Fico imaginando os que estão lá, neste momento. Milhares de brasileiros vigiando um sono ainda liberto, se é que esse também não deu as mãos ao meu e saíram por aí a passear.

Não discuto o tal processo, nem os procedimentos jurídicos e midiáticos e muito menos o caminho escolhido pelo ex-presidente. Também não discuto, neste instante, os erros da esquerda no poder (já fiz isso em outras ocasiões). Primeiro por não ser jurista, e segundo porque isso é o que menos importa neste instante. A questão principal está no que o vento vem soprando nos últimos anos, moldando ondas lentamente, ora frágeis ora impetuosas. Desde as manifestações inexplicadas de 2013, passando pela instabilidade econômica e política de 2014 e 2015 insufladas por uma operação anti-corrupção seletiva e com objetivo, hoje, muito claro. Até o afastamento de uma presidenta, que não cometeu crime durante o mandato, e implantação de uma agenda neoliberal, financista e completamente voltada aos interesses do mercado. Ou seja, a questão principal parece ser a necessidade de decifrar do caos, uma pista sobre o que o futuro nos reserva.