quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

das histórias que as paredes contam: as borboletas



Há diversas atitudes de se encarar o Natal,
Algumas das quais podemos desconsiderar:
A social, a indiferente, a estritamente comercial,
A ruidosa (os bares ficam abertos até meia-noite)
E a pueril – que não é a da criança
Para quem a vela é uma estrela, e o anjo dourado,
Cujas asas se distendem no topo da árvore,
Não apenas um enfeite, mas um anjo.

A criança se extasia diante da Árvore de Natal:
Deixemo-la permanecer no espírito de êxtase da Festa
Que é tanto um evento inaceitável quanto um pretexto;


(O Cultivo das Árvores de Natal, T.S.Eliot in Obra Completa Vol I p.227 - tradução: Ivan Junqueira)


árvores e asas, por Sergia A.


É dezembro sem chuva. Tarde morna e desanimadora. Visito-a depois de uma longa ausência. Ouço as dificuldades de sua progressiva imobilidade:
- Fizeram-me múltipla. De mim nascerem flores e borboletas. Eis-me novamente casulo.

Dezembro continua sem chuvas. Atravesso tardes mornas e desanimadoras. Recebo as três em pleno solstício de verão. Uma parede ganha vida nova. Trazem-me um pinheiro. Das velhas caixas saltam o vermelho e o dourado das bolas e anjos. O pisca-pisca de LED, ainda inteiro. De repente a do meio imposta a voz, para ser ouvida:
- acho que árvores precisam de borboletas.

Tesoura, papel colorido, cola, alça de elástico e uma cortina esvoaçante. Movida pelo ar quente que sopra o fim da tarde. Morna e animadora. Gritos rimam com saltos. Entro no jogo. O suor. O banho. O gelo desbotando a cor do suco. A cola precisa de tempo (o casulo, a maior me diz baixinho para não interromper).
- As borboletas estão prontas! gritam em coro.

Moldadas a seis pequenas mãos. Poderia recusá-las como metáforas surradas que recheiam livros e bolsos dos autores de 'autoajuda'. No entanto, as  aceito pelo modo e tempo que aqui pousaram. Símbolos do ano bom, de tão difícil. De ovo a larva. De larva à crisálida. Em breve, quem sabe, à leveza das asas. Só aí me dou conta da conspiração da fervura dos dias. O telefone toca. Falo antes dela:
- surgiram borboletas na minha árvore de natal!
Escuto seu riso vitorioso e cansado, tentando articular o cumprimento que não perde o sentido mesmo para os que pensam a vida distante dos deuses: Feliz Natal! 



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