às vezes alheia ao tempo em que ele vive.
[Abril Despedaçado, p.93 - Ismail Kadaré, tradução do albanês de Bernardo Joffily.]
flores secas, por Sergia A. |
Vi o filme Abril Despedaçado (2001) antes de ler o livro do albanês Ismail Kadaré. Já tinha certo apreço pelo conteúdo literário encontrado na linguagem de Walter Salles em filmes anteriores como Terra Estrangeira (1995) e Central do Brasil (1998). Possivelmente parte da alegria de sentir algo novo no cinema brasileiro que andava em baixa. Mas não conhecia Kadaré e nem sua escrita instigante. Portanto as imagens, a princípio, me foram fornecidas pela bela fotografia de Walter Carvalho. Imagens que, inexplicavelmente, encontraram eco na minha alma. Tento explicar: não se tratava apenas de ver representado na tela grande o belo extraído da natureza em luta constante contra a morte, que nos acostumamos a ver nos filmes em que o espaço nordestino é tema determinante do enredo, como Terra Seca ou Deus e o Diabo na Terra do Sol. Paisagem que toca e fala muito de perto aos que nasceram ou viveram algum tempo de suas vidas na aridez do sertão. A mudança de foco do drama social para o drama interior que antecede a escolha entre o prazer e a dor era como uma ponta de espinho cravada no pé, a cada passo uma fisgada a me dizer que estava ali. Sem outra opção, devorei o livro.