domingo, 29 de julho de 2018

Azul é a cor da distância


All
are gone.
Now I am learning
of where the seed sprouds in the soil,

[Frank Davey, The Arches p.41]



voo sobre o azul


Para L., que me ensina a ser aprendiz



Não faço segredo da minha necessidade constante de viajar. Dizem que meu elemento é fogo, portanto preciso de ar. De ares, melhor dizendo. Diversos, fluidos, leves e azul como só o ar sabe ser. Às vezes busco o passado, como fonte inesgotável de luz sobre nossa passagem pelo mundo, para me convencer de que sou resultado de um movimento que está além desta existência efêmera. Desta feita fui em busca de futuro, talvez de um fio de esperança. De mãos dadas com alguém muito jovem que, cansada de ser receptora de meus relatos distantes, queria assumir o papel de protagonista.

cedros 


Ela constatou rapidinho que não há nada de glamouroso em arrastar malas em esteiras a milhas e milhas de distância. Apertar-se cheia de náuseas na classe econômica, enfrentar o medo das turbulências, ser examinada com desconfiança nas fronteiras inventadas pelos homens, ter a mochila revistada milhares de vezes, ter o corpo invadido por raio x, justificar o pedido de entrada e explicar, em outra língua, a disposição de voltar rapidamente para o lugar demarcado como seu, como se lugares fossem partes inalienáveis de um corpo e não uma convenção administrativa.

No entanto, ela viu também que tudo se dilui no vento quando, tendo os pés firmes no chão, deixamos o novo ar invadir os pulmões permitindo ao cérebro o êxtase do olhar inaugural. De ver, de novo, tudo pela primeira vez.