O rio que fazia uma volta atrás da nossa casa era a
imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás
de casa.
Passou um homem e disse: Essa volta que o
rio faz por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que
fazia uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
(Manoel de Barros, in Uma didática da invenção XIX,
O livro das ignorãnças p.14)
Minha janelea e eu, por Sergia A.
A nuvem que avançou sobre minha janela, em uma tarde de abril, era a imagem de uma onda gigantesca. Ali, pronta para me envolver em seu túnel d'água assustador. Nada mais me restava, senão o registro do assombro.
O professor examinou a imagem e, do alto de sua sabedoria, afirmou: Nuvem Prateleira, é a classificação.
Já não era mais o mar enfurecido que por um instante visitou minha janela. Era apenas uma prateleira prenunciando o temporal.
Prateleira? Há que se repetir o desencanto do poeta: Acho que o nome empobreceu a imagem.