quinta-feira, 19 de julho de 2012

Densidade, delicadeza e elegância


Verde e lilás, por  Sergia A.

O ônibus desliza suavemente sobre a perfeição da estrada. Fixo o olhar na velocidade da janela aberta para campos arados e modernos moinhos de vento, As curvas trazem ora a densidade dos bosques ora a inclinação dos telhados em torno de torres medievais, que aderem à transparência do vidro impondo-me a paisagem dos cartões postais. Fecho os olhos e apuro sons perdidos na infância.

Encantadas, as personagens dos Irmãos Grimm me sorriem. Há uma bruxa e suas porções, caçadores que enfrentam lobos, um flautista com musica hipnotizante, quatro estranhos músicos de som animal. Os olhos se fecham abatidos pelo cansaço.

A luz de uma janela para a cúpula verde e dourada me desperta na manhã. No seu interior visito a cidade devastada pelas bombas, para em seguida vê-la reerguida. Uma lição de resiliência, ou um reconhecimento da capacidade de realização de seu povo amplamente conhecida na arte, na filosofia, na musica, na arquitetura, na psicologia, no design. Sigo.

No fim de uma tarde chuvosa me perco no labirinto de Eisenman. Já do outro lado da praça, vendo de longe a sequência ilógica dos seus blocos, sem dissolver o seu enigma estetico (como orienta Adorno), entendo-o como uma provocação à racionalidade humana por vezes extremamente  irracional. A chuva insistente me devolve ao encontro com Andy Warhol em um quarto de hotel que respira arte contemporânea na delicadeza dos detalhes. Um sorridente barman me oferece três taças de diferentes origens para degustação. Escolho o Riesling, sem grandes preocupações com as demais informações do rotulo. Ao ser questionada, gentilmente respondo que o paladar determinou a escolha, simplesmente. Subo.

Há uma vaga insinuação de sol no verde-água da janela. Apoiada por uma cadeira de um lilás contrastante, entrego minha mente a um merecido descanso. Enquanto um caminho para o mar se estende à minha espera, constrói-se no peito vazio a certeza de que essa passagem rápida foi uma prova necessária. Determinou-se que assim fosse. Outros dias, outros caminhos inevitavelmente amanhecerão.

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