sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Das tormentas e calmaria


The Shakespeare's shipwreck trilogy
Royal Shakespeare Company
Fonte: http://www.worldshakespearefestival.org.uk/





And, like the baseless fabric of this vision,
The cloud-capp’d towers, the gorgeous palaces,
The solemn temples, the great globe itself,
Yea, all which it inherit, shall dissolve,
And like this insubstantial pageant faded,
Leave not a rack behind. We are such stuff
As dream are made on; and our little life
Is rounded with a sleep. (...)

 
(fala da personagem Prospero de W.Shakespeare in The Tempest, Act Four Scene I) * 


Só queria o cantar das ondas para esquecer por alguns dias as obrigações. Minha mente merecia uma pausa para revitalização. E tudo que ouvi das pessoas nesses dias foram planos e metas para o ano novo. Tudo medido, negociado, dividido em parcelas a vencer. Então, de repente, me baixa aquele santo provocador e me faz lembrar que as melhores coisas da minha vida aconteceram completamente por acaso. Ou será que não?

O engraçado é que tenho certo gosto por planejamento, devo confessar. Aliás, não sei se realmente gosto ou se meu gosto foi moldado pra isso ao longo dos anos. Apesar dos jeans desbotados e dos cabelos em desalinho não quebrei regras importantes na adolescência. Curto até hoje uma saudade do que poderia ter sido. Aos dezoito anos o projeto de vida estava desenhado. Apagou-se em um sopro. Por um curto tempo vivi um sonho coletivo. Entre tormentas, o que chamam realidade me abriu espaço para calmarias.  

Mas, tenho também um gosto especial por sonhos. Mesmo aqueles que se embalam em tormentas. Muito antes de ser desgastada e rodeada de clichês, essa palavra já dormia a meu lado e me acordava no meio da noite para alimentar o meu gosto por planos. É ela que, às vezes, me leva a crer que somos o que pensamos. Às vezes quero acreditar que meus pensamentos são mais que reações cerebrais, e que talvez até se envolvam na causa dessas para me presentearem com percepções exclusivamente minhas.





Bom, voltando às tormentas, a vida continua me oferecendo no meio delas chances de realizar sonhos. Foi assim que cheguei a Stratford-Upon-Avon durante o World Shakespeare Festival 2012, o que me permitiu ver algumas montagens da Royal Shakespeare Company.

The Tempest foi uma das escolhas acertadas. Aparência versus realidade no centro de um palco com cenário marcado apenas pela iluminação. Um duelo de imaginação impulsionado pela eloqüência dos atores bem treinados e a sonoridade de uma língua que não era minha, deixando meus neurônios em polvorosa.
E quem sabe, provocando novos sonhos em um processo inverso. Das reações neurais ao pensamento. Do pensamento ao sonho. Do sonho à ação: um novo plano. Energia em movimento. E o acaso? A vida segue o movimento. Ou será que não?

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* (...). E tal como
O grosseiro substrato desta vista,
As torres que se elevam para as nuvens,
Os palácios altivos, as igrejas
Majestosas, o próprio globo imenso,
Com tudo o que contém, hão de sumir-se,
Como se deu com essa visão tênue,
Sem deixarem vestígio. Somos feitos
Da matéria dos sonhos; nossa vida
Pequenina é cercada pelo sono. 


(trad. Carlos Alberto Nunes in A tempestade)

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