terça-feira, 14 de abril de 2015

Repetindo tardes



O rio que fazia uma volta atrás da nossa casa era a 
imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás 
de casa.
Passou um homem e disse: Essa volta que o 
rio faz  por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que
fazia uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

(Manoel de Barros, in Uma didática da invenção XIX,
O livro das ignorãnças p.14)




Minha janelea e eu,  por Sergia A.


A nuvem que avançou sobre minha janela, em uma tarde de abril, era a imagem de uma onda gigantesca. Ali, pronta para me envolver em seu túnel d'água assustador. Nada mais me restava, senão o registro do assombro.

O professor examinou a imagem e, do alto de sua sabedoria, afirmou: Nuvem Prateleira, é a classificação.

Já não era mais o mar enfurecido que por um instante visitou minha janela. Era apenas uma prateleira prenunciando o temporal. 
Prateleira? Há que se repetir o desencanto do poeta:  Acho que o nome empobreceu a imagem

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