e também as estações
De tanto arregaça-las,
as mangas ficarão em farrapos.
(...)
Na relva que cobriu
(...)
Na relva que cobriu
as causas e os efeitos
alguém deve se deitar
com um capim entre os dentes
e namorar as nuvens
(Wislawa Szmborska, in Fim e começo – Poemas p. 92/93
tradução de Regina Przybycien)
tradução de Regina Przybycien)
embalagem recortada (CartonDruck para Natura - Pomar de cítricos)
A cozinha de laterais abertas tinha cheiro de limão e flor de laranjeira. Árvores espinhentas abusando do verde que se derramava sobre o alpendre. Peitoril largo alongando a preguiçosa espera. O café na caneca de ágata. A goma fresca a tapioca. O fogão à lenha. O fogo que não se apagava. Mulheres empunhando a dança das mãos-de-pilão alucinadas, para meu deleite.
Citrus. O corte o cheiro. A acidez intensificando os sabores. O peixe a batata doce. A água barrenta do riacho que fazia curva e se quebrava sobre os lajedos do fundo do quintal. O prazer proibido pelo roxo que encobria a imagem. A fogueira. O sacrifício do cordeiro. A noite chuvosa encompridando histórias de reinos distantes.
Os raios tímidos retornando ao pomar depois da tempestade. A brisa fresca arranhando minha pele, enquanto os olhos namoravam as nuvens. O sino da capela, repicando a alegria do domingo, nada me dizia do tudo que hoje me dizem as reminiscências. Essa esperança boba de que tudo pode recomeçar. Talvez, de algum modo, a culpa seja do mesmo Cristo.
(para avó Antonia, que não gostava de ser chamada de vó, mas plantava limão enquanto sobrevivia às tempestades)
(para avó Antonia, que não gostava de ser chamada de vó, mas plantava limão enquanto sobrevivia às tempestades)
Sigo o cheiro do sumo do limão para ler sua crônica que bem fala dos sulcos da memória. Por ela reencontro o vento piauiense. Citrus. Crônica cheirosa, Sergia.
ResponderExcluirObrigada, Assunção! Fico feliz por esse reencontro... Benditas sejam as palavras!!!
Excluir