segunda-feira, 4 de maio de 2015

Entre surpresas e suspeitas


The old believe everything; 
middle-aged suspect everything; 
the young know everything.

Oscar Wilde in Phrases and Philosophies for the Use of the Young (1894)           


o vento, por Sergia A.


A juventude me desperta um misto de inveja e admiração. Não apenas pelo viço ou beleza, mas sobretudo pela coragem. Pela fé no que virá, pelo futuro prenhe de realizações. Talvez, por isso suas manifestações sempre prendem a minha atenção. Nas artes, nas ciências ou na política. Não por acaso, três meninos me surpreenderam nos últimos tempos. Não fiz nenhuma pesquisa, seleção ou julgamento. Foram os ventos dos nossos dias que os trouxeram até mim, e acenderam aquela luzinha chata, que fica piscando até que as palavras se juntam na tela tentando fazer algum sentido. 

Um deles me chegou por meio de um link provocativo para um vídeo ‘viralizado’ na internet. Diziam tratar-se de um gênio que estava desconstruindo a ‘esquerda’ brasileira, ao liderar movimentos e ter criado um site de divulgação de suas ideias, com milhões de acesso. Vi o video. Busquei outras fontes. Descobri (por ele próprio, em entrevista) que só há um ano começara a ler sobre ‘liberalismo’. Um ano só e já sabia tudo, a ponto de desafiar um professor universitário, deputado de esquerda e defensor de causas ditas polêmicas. A surpresa: a distância entre a juventude do seu corpo e o movimento retrógado da sua mente, que ele julga ser de vanguarda. Suspeito da sua certeza de que o mundo pode ser muito bom para quem merece. Aos vencedores, tudo. Aos fracassados, o esgoto. Vitória e fracasso diretamente relacionados, unicamente, ao esforço individual.

Não foi difícil associá-lo, por contraste, ao verdadeiro gênio da internet. Outro jovem que muito cedo vislumbrou a possibilidade de mudar o mundo. Acreditava que esse mundo poderia ser bom para “bem-nascidos” (como ele) e para os demais, desde que os demais tivessem as mesmas oportunidades de acesso à informação. Pensamento possível de concretização, considerando-se o grau de avanço tecnológico alcançado pela civilização. A surpresa: o preço muito alto que pagou por suas ideias revolucionárias. Uma suspeita: o que os diferencia é, de um lado, o entendimento de que o ser humano é capaz de se construir sozinho, negando a história, o ambiente e o lado negativo da ambição humana. E do outro, o reconhecimento de que o homem, seu conhecimento e suas riquezas são produtos de uma construção coletiva.

Nesse ponto me surge um terceiro. A surpresa: um final bem mais trágico do que o segundo, pois leva em sua misteriosa decisão outras 149 vidas. Na tentativa de encontrar explicações, seu passado é devastado. Não nos chega informação sobre um envolvimento político consciente. No entanto, seus dramas pessoais e frustrações alimentam as suspeitas que o colocam como vítima do louco mundo em que “fracassados” não tem vez. Ou, talvez, vítima da angústia que elimina o sentido da vida quando um sonho (um investimento, uma expectativa) não se realiza e a responsabilidade cai inteiramente sobre o indivíduo. Como se o amanhã não pudesse nos surpreender, de repente.

Suspeito de muitas outras coisas, já não tenho certezas. E, muitas vezes duvido de certezas e suspeitas. Ainda assim, talvez, pela proximidade ou por querer me surpreender com a crença em um mundo bom para todos. Ou, simplesmente, como resposta à provocação que me foi enviada, há neste instante uma voz em mim que diz assim:
Estuda mais, menino! Lê várias linhas de pensamento. Isso te enche de dúvidas, alarga o teu horizonte e te permite chegar a tuas próprias conclusões. Recorre à História, aprende como se forjaram os teus heróis e os teus vilões, e te livras do maniqueísmo que te impuseram. Quando terminar a leitura, larga os teus equipamentos tecnológicos, dá uma volta pela cidade e ouve pessoas fora do teu ciclo. Viaja pelo mundo. Esquece Miami por uns tempos. E se for bravo o suficiente, conheça a América Latina, a África ou o Oriente em guerra permanente. Talvez, suspeitarás que tanto o deputado quanto Che, Marx, Mises, Rothbard, Keynes, Ted Cruz, Obama e o Papa Francisco tenham contradições. Tenho cá as minhas, e se fores inteligente tanto quanto o teu poder de articulação, as tuas logo surgirão.
Ah!, suspeito ainda, que se quiseres mesmo ser vanguarda, será necessário esquecer esta forma sórdida de manipulação da opinião pública. Retirar palavras ou fatos do seu contexto para fortalecer o que se diz além de ser prática antiga é muito feio, fica para aqueles que não têm argumento.



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