quinta-feira, 22 de março de 2012

Se eu lesse mais romances russos


The Kids Are All Right,  por Lisa Cholodenko, 2010
Fonte: YouTube

Um dia desses vendo um filme despretensioso, escutei no meio de uma cena de discussão de relação essa pérola que hoje dá título e inspira os meus delírios. No contexto, a frase parecia surgir para garantir o tom de comédia em meio a uma situação dramática, ou no mínimo como um discurso irônico da diretora/roteirista se intrometendo na fala das personagens. Mas, o certo é que me chamou a atenção e me fez pensar até que ponto a arte, e em especial a literatura, direciona nosso olhar para o que não vemos na superfície.

Aplaudido pelo mundo (Festival de Berlin, Globo de Ouro, Oscar, BAFTA) como um filme que tenta tratar com naturalidade a temática do casamento gay, The Kids Are All Right (Lisa Cholodenko, 2010 – prefiro o título original à tradução brasileira Minhas Mães e Meu Pai) tem na homossexualidade apenas o ponto de partida para a questão principal, que parece ser as dificuldades de ser uma família, independente da forma como ela se estrutura. Um tema inegavelmente universal. Mesmo com seus clichês, atitudes moralistas e algumas tramas mal resolvidas, o filme consegue tocar com leveza nos dramas típicos das relações duradouras em que indiferenças e infidelidades são elementos indispensáveis no roteiro de mágoas perdoáveis ou não. Pobres seres humanos. Tão diferentes e tão iguais. Quem haverá de nos compreender? O filme parece dizer que o melhor remédio é rir de nós mesmos. Para isso criou-se a comédia.

Divergimos profundamente na língua, na cultura, no biótipo, mas respondemos à nossa necessidade de vínculos repetindo os mesmos gestos. Desvendar esse componente que nos identifica como humanos é tarefa para a filosofia e a ciência, com seus avançados estudos sobre a mente. Enquanto isso a arte me observa e me provoca como um grande espelho. Refletida em sua superfície lisa sou capaz de ver a minha face, prazerosamente. Que Tolstoi, Tchekhov e Dostoievski venham em meu socorro.

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