domingo, 11 de agosto de 2013

Grávidos


Close your eyes
Have no fear
The monster's gone
He's on the run and your daddy's here
Beautiful, beautiful, beautiful
Beautiful boy
Beautiful, beautiful, beautiful
Beautiful boy (...)

Before you cross the street
Take my hand
Life is what happens to you
While you're busy making other plans


(John Lennon in Beautiful boy)


M/Paternidade,  por Sergia  A.
 

Desconfio que sofro de um estranho mal. A obrigatoriedade me dá sono enquanto a liberdade me desperta. Foi assim que acordei cedo em uma manhã de agenda vazia. Liguei a TV em um gesto automático. Um talk show em reprise. Um grupo de mulheres bem sucedidas em profissões ditas masculinas discute a questão feminina na sociedade contemporânea. Os discursos se repetem: os novos papéis, o acúmulo de atribuições, as conquistas, a maternidade e o sentimento de culpa, e o receio de se definir como feminista (um conceito ultrapassado, para a maioria delas). Por mais que a mediadora tentasse aproximar Simone de Beauvoir dos argumentos que suas experiências individuais teciam, nenhuma das convidadas se permitia falar da obrigação materna de cuidar dos filhos como construção cultural (ponto crucial para compreensão da dependência econômica das mulheres).

É esse ponto que neste dia especial atiça meu pensamento e alvoroça letras na tentativa de falar do sublime direito à m/paternidade sem culpa na loucura dos nossos dias. Assim mesmo alternando o m e o p para provocar a arbitrariedade da língua. Na área trabalhista, a língua inglesa resolve a questão com o termo parental leave, que abrange as nossas licenças maternidade, paternidade e para adoção. E com espanto descubro nações (Eslováquia, Estônia, Suécia, Noruega, para citar exemplos) que já não fazem essa distinção na hora de conceder o afastamento do trabalho para cuidar do filho. Chocante? Genial? Pois é, em alguns desses países depois do terceiro mês do nascimento (quando teoricamente cessaria a imposição biológica feminina) pais/mães decidem qual dos dois vai se afastar do emprego para cuidar do bebê. Liberdade de escolha e a negação do determinismo secular. E o mais bonito de ver é que essa não parece ser uma conquista exclusivamente feminina. Felizes eles também se assumem grávidos, já não temem ser tocados pela delicadeza desses laços afetivos e desejam ocupar o lugar que estava à sua espera. Uma conquista do ser humano.
 
Penso no novo homem, na nova mulher e no ato de fé que se manifesta na decisão de ter filhos. Fé na vida e no seu poder de renovação, fé no humano. Na década de 1970 Simone de Beauvoir dizia que os resultados de sua luta só seriam sentidos talvez “daqui a quatro gerações”. Uma projeção de futuro que tem se confirmado na prática ainda que sem a consciência teórica. Talvez estejamos sim caminhando para a desconstrução do mito do instinto maternal, e ativando o instinto de sobrevivência de um novo ser. Uma complexa estrutura biológico-afetiva que não cabe na singularidade de um m ou de um p. Há ainda um longo caminho, sem dúvida, mas por agora a vida segue enquanto nos ocupamos em fazer outros planos. Bom tema para o almoço dos pais, não?   
 
FELIZ DIA DOS PAIS!
 


 

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