segunda-feira, 26 de agosto de 2013

E se...


Janela para arbustos

Os dias começam a ficar insuportáveis por aqui. Dizem que ficamos mais tolerantes com a idade. Devo ter nascido ao revés. Estou impaciente, mais e mais... Meu corpo sucumbe ao ar quente e seco que abafa as tardes. Desisto das ruas. Procuro refúgio. Enfurno-me. Estendo a mão. Encontro-o à minha espera, sempre. O melhor de tudo: ele não me pergunta por onde andei. Abre-se em sorrisos. Acolhe-me. E eu vou... antes que se apoderem de mim todos os se que me perseguem.

E desta vez ele me saúda com esse poema. Não resisto. Há muito ele me provoca. Há que haver misericórdia:
 
If 

If freckles were lovely, and day was night,
And measles were nice and a lie warn’t a lie,
             Life would be delight,—
             But things couldn’t go right
            For in such a sad plight
I wouldn’t be I.

If earth was heaven and now was hence,
And past was present, and false was true,
            There might be some sense
            But I’d be in suspense
           For on such a pretense
You wouldn’t be you.

If fear was plucky, and globes were square,
And dirt was cleanly and tears were glee
           Things would seem fair,—
           Yet they’d all despair,
           For if here was there
We wouldn’t be we.

 
(e.e.cummings in Complete Works
)
***
 
Se 
 
Se sardas fossem charmosas, e a noite fosse o dia,
E o sarampo fosse gentil e a mentira outra não atraísse,
         A vida seria só folia, –   
         Mas as coisas não andariam
         Pois em tal agonia
Talvez eu não existisse. 
 
Se a terra fosse o paraíso e o agora fosse o subsequente,
E o passado fosse o presente, e o falso certo pudesse ser,
          Poderia haver algum senso
          Mas eu estaria suspenso
          Pois neste mundo pretenso
Você não seria você.

Se o medo fosse bravura, e esferas fossem quadradas,
E a sujeira fosse pura e as lágrimas fossem alegria
         As coisas pareceriam acertadas, –
         Ainda que todas desesperadas,
         Pois se aqui fosse acolá
Nós, nós não seríamos. 
 
(Tradução: Sergia A.)


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