sábado, 16 de novembro de 2013

Janela para o Sul


love's function is to fabricate unknownness

(e.e. cummings, in Selected Poems p. 44)



A visita do sol, por Sergia A.


Não escuto o seu cantar. A sede de chuva já não movimenta meus passos. Um sol distante passa apressado diante do vidro da janela. Seus raios me atingem e não me aquecem. Acariciam minha pele e não a queimam. Sua luz alcança meus olhos e não os encandeia. Seu tempo reduzido se estende impreciso sobre o pequeno arco avistado por minha janela. Nascente e poente acenando para mim na mesma janela.

Estranho ver o mundo despertar na hora mais preguiçosa da manhã. E mais estranho ver a tarde se vestir de noite assim, precocemente, sem que suas horas se completem. Ver a noite se alargar devorando o que seria promessa de pleno dia.

Então, se o estranhamento me atrai, não me resta nenhuma queixa. Aqui estou, alternando sol e chuva na janela que se descortina para mim. E em mim, o encontro. Mais que um propósito para minha jornada. Um ponto de partida. Caminho que se descreve e ganha cor entre a luz e sua ausência.  Enquanto houver caminho, seguir. Desfazendo-se em cada pouso para se recompor no voo que se anuncia. Talvez o destino seja mesmo o não chegar.

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