quinta-feira, 13 de março de 2014

Longe é um lugar que existiu


 
Mar perecido, por Sergia A.
Montagem sobre poema de Helena Kolody
in Poemas do Amor impossível p.105
 
   
Escrever sempre foi para mim uma forma de me sentir viva. Tanto nas fases de eufóricas certezas quanto naquelas em que só as lágrimas nos entendem. Escondia os pequenos escritos, com medo do desvio que podiam revelar. Muitos foram queimados, outros se dissolveram nas gavetas mofadas. Por esses dias encontrei, por acaso, um pequeno caderno junto com antigos cartões postais.  Do tempo em que uma alegria carregada de esperança chegava em linhas que vinham de muito longe. Passei a limpo. Amassei. Decido publicar. Já não tenho medo do escuro. E, talvez, já não tenha idade para brincar de esconder...


 Revelação



Eu sei que sonho
não quando cerro os olhos
para alertar sentidos
ou quando adormeço
e minha alma sobrevoa
um corpo inerte
não quando o sol aquece a janela
revolvendo lençóis
e com um lápis ainda zonzo
faço notas apressadas
Eu sei que sonho
não quando o ontem retorna
para lavar de saudade minha face
ou quando na caixa do correio
encontro a carta que não chega
pronta para apagar o que restou
não quando leio meu nome
na lista dos seletos aprovados
e em sala de aula descubro
um amanhã já não promissor.
Eu sei que sonho
quando de repente
o tic-tac do ponteiro
gentilmente me desperta
do sonho que sou.

(Teresina, março de 1978)
 


Fonte: YouTube





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