quinta-feira, 12 de junho de 2014

Eu chamo amor



Amizade é amor sem clausula de exclusividade,
e sem a ditatura da libido.

(Zuenir Ventura, em entrevista a Roberto d’Ávila - Jun/2014)



Perdoem-me os amantes, mas hoje quero celebrar a amizade. Como se não bastasse a abertura da Copa 2014 nesta data, né? Não que eu ache o futebol ou a amizade incompatíveis com o fogo das paixões. Bobagem. O coração (o romântico) dá o seu jeito. Mas, é que por esses dias vi de perto uma demonstração que me tocou lá no fundo. Sabe aquelas que confirmam os versos do Milton? Pois é... e aí, remexendo gavetas, encontrei um texto escrito há alguns anos, sob efeito de um encontro. Em nome disso, que eu chamo amor, decido publicá-lo com alguns ajustes (não sei reler sem modificar):

Achados, por Sergia A.


Sobre o tempo e os amigos

Manhã de domingo sem o sol na janela apressando o meu despertar. Súbita mudança nas altas temperaturas que novembro prometia. Ainda assim, desperto. Abraço uma brisa nova vinda da varanda. Na cozinha a cafeteira italiana, presente de uma amiga, concede-me alguns segundos para folhear uma revista. O pensamento divagando em meio ao aroma do café em ebulição. Fixo os olhos em uma página. O anúncio parece captar sinais do meu inconsciente: “o tempo faz os verdadeiros amigos”. Vende-se um produto melhorado com o tempo. Na publicidade as palavras que me socorrem na tentativa de expressar os sentimentos experimentados nos últimos dias quando reflito sobre os encontros, desencontros e reencontros que tem marcado nossa trajetória ao longo dos anos. 

O tempo registra mais de um quarto de século desde as acaloradas discussões levadas nos diretórios acadêmicos como se daqueles embates dependesse o futuro da nação, aprisionada por uma ditatura agonizante. Mais de um quarto de século desde as longas viagens com destino aos congressos estudantis, carregando na bagagem temores, sonhos e a certeza de que construíamos um novo tempo. Mais de um quarto de século desde as noites festivas embaladas pelo sabor adocicado do vinho barato e da culinária simples dos botecos que bolsos minguados podiam frequentar. Mais de um quarto de século a nos separar da juventude e da alegria que nem mesmo a compenetração ideológica e a gravidade da conjuntura política conseguiam sufocar.


O tempo, senhor da vida, em mais de um quarto de século permitiu a cada um construir sua história, individualmente. Ora afrouxando ora apertando os laços. Sem, no entanto, os desfazer. Houve momentos de distanciamento físico quando o latente sentimento soube respeitar a ausência para engrandecer o reencontro. Momentos outros de aproximação necessária, quando a dor exigia o amparo que só esse sentimento sabe ofertar. Entretanto, o que fica na memória é a alegria contagiante dos retornos, em que novos rostos se misturam sob a proteção do mesmo sentimento, agora celebrado com vinhos e gastronomia especiais.
Nas manhãs que se seguem a essas noites inspiradoras, inebriada por encantamento, minha mente se inquieta. Estranha afeição que não sofre o desgaste natural do tempo. Ao contrário, nutre-se dele para fortalecer os vínculos. Tempo, bendito tempo! O que era verdadeiro permaneceu.

(Teresina, 12/11/2006)



FELIZ DIA DOS NAMORADOS!

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