quinta-feira, 26 de março de 2015

Do que estamos falando quando falamos de corrupção



Esperança não significa uma promessa. 
Esperança significa um caminho, 
uma possibilidade, um perigo. 

Edgar Morin 


o broto, por Sergia A.


Crueldade. Qualidade de cruel, diz o dicionário. Cruel. O mesmo que insensível, que gosta de fazer o mal. Escolho o Insensível. Custa-me crer que alguém, dito são, pratique maldades por gosto. Talvez um gosto demasiado por agradar a si mesmo, ao ponto de tornar-se insensível. O outro deixa de existir. Estou no mundo para ser feliz e quero o que é meu. Pouco importa que meios se farão necessários para que ‘o que é meu’ o venha a ser de fato. Isso, de alguma forma, explica o movimento ganancioso do mundo. A indiferença. Raiz da crueldade humana. É o que me vem à mente quando ouço discursos, e leio slogans de  campanhas anticorrupção. Ou, sempre que penso no grande mal que nos afasta da construção do bem comum.

A conquista ‘do que é meu’ salta dos pequenos passos individuais a grandes dimensões comerciais, organizacionais e políticas. Formulam-se leis. Criam-se sistemas. Estruturas fortemente arraigadas. Contaminadas de uma crueldade velada. Em maior ou menor grau. Na base, as metas individuais ou de grupos. A minha visão de mundo se sobrepondo ao pensar alheio, ao pensar coletivo. O caminho torto já não incomoda. Posso avançar. Correr riscos, faz parte. Um discurso moralista, uma fundação, uma ONG. Salva-se a aparência e tudo fica bem. Somos desiguais. Sempre fomos. Pessoas, nações com direito a tudo. Pessoas, nações sem direito ao mínimo. A esses, resta o sonho do paraíso alimentado pelas religiões. A perversa distorção do merecimento. Assim se fez a riqueza do mundo. Assim se construiu a civilização. Marco inicial (diz a História): a concentração em cidades, a hegemonia de grupos étnicos que acumularam recursos naturais e bélicos, a divisão social. Algum problema com a riqueza do mundo? Não, nenhum! As reticências se agregam à distribuição. Ao fosso. À negação do outro. À negação do destino comum.

Evolução. Desenvolvimento gradual. Movimento progressivo, diz o meu gosto por dicionários. Tecnologia. O ponto alto da civilização. Extensão do humano. O mundo com teto de vidro já não esconde a dor de muitos, ou o gozo de poucos. Esperança. Fujo do significado moroso da espera, ou da promessa. Escolho o que se aproxima de um Caminho, uma Possibilidade. Talvez, o perigoso desmonte das estruturas que nos adestram para a conquista 'do que é meu'. Talvez, a edificação de um pensar no que é nosso apenas por um tempo.

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