terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O Lugar mais Underground que eu Conheço não é o Inferno


E lá se foi o quarto mês do primeiro ano da segunda parte. De repente me vem à lembrança pessoas que comigo iniciaram a jornada na primeira parte, mas que a certa altura ousaram tomar rumos diversos.

Fonte: YouTube


Perambulando pela rede certa noite dessas (devo confessar: não vivo sem ela) vi uma referência ao CD Antídoto do Emerson Boy. Latentes na memória, as imagens de uma noite, no mínimo irreverente, se materializaram rapidamente.

O convite para prestigiar o show de um amigo dos tempos da faculdade de engenharia e também dos primeiros anos de Banco, que ousara arriscar o certo pelo incerto correndo o mundo em busca de um sonho, parecia ser uma boa alternativa ao tédio dos restaurantes normalmente freqüentados nos sábados à noite. O programa parecia inspirador para quem desejava jogar pro alto a seriedade sombria de uma semana de trabalho e por algumas horas deliciar-se com conversas sem rumo entrecortadas por lembranças provocadoras de boas risadas. Lembro-me que não entendi a cara de espanto das minhas filhas quando, já de saída, anunciei aonde iria naquela noite. Assustadas com a confirmação, decretaram uma mudança urgente, necessária e radical no visual: jeans preto, blusa preta, prata, muita prata nos dedos, braços e orelhas, era o que pedia o conceito “trash” do lugar.

Da calçada, a casa descuidada sem aparência de local apropriado para um show, era um convite a dar meia volta e espantar o tédio com um bom filme. No entanto, havia um compromisso e a ocasião merecia qualquer sacrifício. Encontramo-nos na entrada e fomos lentamente deixando nos contaminar pela atmosfera do lugar. Se a nossos olhos o ambiente se revelava inusitado, fico imaginando o que parecíamos aos olhos dos seus habitantes naturais: uma fauna um tanto diferenciada que se acomodava em bancos desconfortáveis, poltronas rebentadas ou estofados puídos dispostos em cantos mal iluminados, ou recostados nas paredes mofadas. Toaletes com sinalização ousada se harmonizavam com lustres e “louças” não usuais acentuando, em grande estilo, o aspecto intencionalmente “underground”. Torquato, imortalizado na imagem de anjo torto, dava boas vindas no hall de entrada, enquanto apressávamos o processo de adaptação tentando entender o funcionamento do bar sem serviço. Nada que uma boa bebida buscada no balcão não amenizasse o redemoinho dos estímulos que insultavam profundamente a nossa percepção viciada em trajetos repetidos.

De repente, lá estava o motivo da descoberta do lugar. Um abraço amigo, a alegria do reencontro, e boas risadas entre CD autografados, foram aos poucos dando o tom da noite antes que o artista fosse chamado ao palco para dizer a que veio. Nada convencional e apontado pela crítica como um antídoto à monotonia musical do nosso tempo, conhecê-lo ali parecia ser uma clara conspiração do universo. Apresentando uma inquietação que os entendidos diriam ser típica dos artistas de vanguarda, o amigo repetia sua bandeira na canção “Rio de Jah” :
Seguindo minha sina / rio abaixo lua acima / acredito que a liberdade / está em qualquer esquina “.

Um claro recado para a nossa cômoda passividade, que nos impede tantas vezes de fugir dos conselhos sensatos e nos permitir, de vez em quando, o diferente. Antídoto à mesmice, àquilo que paira na superfície, palavras que certamente precisavam ser ditas a mim naquele momento.

(Escrito em 27/02/2009)

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