domingo, 13 de maio de 2012

Falando de Flores no dia das Mães



Varanda, por Sergia A.


Às vezes, nessas ocasiões, me pego pensando sobre esse endeusamento do papel de mãe e junto com ele o bombardeio de estímulos ao consumo para movimentar a economia. Pior que isso são as mensagens subliminares, como que a condenar as mulheres que ousam dizer não à maternidade, negando o suposto instinto maternal. Sem dúvidas gerar vidas tem raízes no sagrado. Talvez por isso o amor materno seja uma exigência. E ai de quem se negar a vivê-lo.

Na contramão, penso nesse instante nas mulheres que por livre escolha ou por motivos diversos abdicam da maternidade, e se dedicam a dar à luz outros projetos. Penso também na culpa que sentimos quando tentamos conciliar dois caminhos. É possível ser essa mãe maravilhosa, ou não sentir culpa por não ser? Tenho cá as minhas dúvidas. Como seres fragmentados do nosso tempo, temos dentro de nós o duplo sentimento: de um lado o encantamento, amor incondicional e prazer em cuidar dos filhos e de outro o sentimento abafado de que limitamos a nossa vida por causa deles.

Levando ao extremo essa ambivalência, a escritora norte-americana Lionel Shriver escreveu o romance epistolar We Need to Talk about Kevin (2003) (Precisamos Falar sobre o Kevin, na tradução de Beth Vieira e Vera Ribeiro - 2007) que foi levado às telas pela cineasta Lynne Ramsey em 2011. Imobilizada pela culpa e pelas acusações da sociedade, em cartas ao ex-marido, Eva (a narradora) fala dos seus sentimentos em relação à gravidez, o nascimento, e o cuidar de Kevin, um garoto difícil que aos 16 anos é responsável pelo assassinato de onze pessoas em seu colégio, algo semelhante ao que aconteceu no Instituto Columbine (Colorado – USA). Suscitando questões sobre se a monstruosidade de Kevin seria inata ou uma conseqüência da rejeição/dificuldade de demonstração de afeto da mãe, o livro não traz respostas e nem devia ser essa a intenção da autora, deixando no leitor aquela amarga sensação que nos leva a reconhecer que existe um fosso entre o que sentimos e aquilo que admitimos sentir nas relações familiares.

Bom, mas esse não é um assunto adequado para essa data, não é mesmo? Por que não falar de flores?
Então, ganhei de presente sementes de Ipê roxo, e vivendo um momento de intenso prazer as plantei com uma ajudante muito especial, a quem hoje me dou ao luxo de amar inteiramente sem culpa, pois já não corro contra o tempo. No mais, é desejar um dia muito feliz para quem escolheu esse caminho e também para aquelas que admitem livremente não ter vocação para isso.

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