sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Onde foi parar a minha alma?

 
Saudade dourada,  por Sergia A.
praia peito de moça - Luis Correia-PI
 

Eu tinha uma alma. E ela era pura. Trabalhava arduamente para isso. De joelhos, controlava os impulsos de manchá-la um pouquinho. Nada de mais, algumas nódoas de frutas roubadas dos quintais. Nada mais. E assim ela se conservava. Afastada do meu corpo. Aconchegada no colo dos deuses.

Eu tinha uma alma. E ela habitava em mim. Largou as nuvens brancas e se alojou na minha mente. Trabalhava arduamente pela sua coerência. O peito inflado de certezas que douravam minha racionalidade. Pouco importava se diziam ser fruto de processos inconscientes infinitos.  A ela entregava meus mais (im)puros sentimentos. Havia um super-ego, por sorte. E ela se conservava em mim. Afastada do meu corpo. Aconchegada em aura flutuante.

Eu tenho uma alma? Ou, ela agora foge de mim? Posso encontrá-la, talvez, colorida e mapeada na imagem do meu cérebro. Reduzida a reações neuroquímicas, ainda se encarrega dos ditos sentimentos. (Serão meus?) E ela, aconchegada em uma massa cinza e gosmenta, me faz íntimas revelações: Deixa-se aprisionar no meu corpo porque não tem nada de especial. Nutre-se de seus hormônios e correntes elétricas, para sobreviver. E, quem sabe, gentilmente retroalimenta os seus comandos.

Sim, eu tenho uma alma. Não importa onde ela se esconde. Não importa os atributos de sua natureza. Sensível, faz-se lentes para que eu veja a mim e o mundo. Criativa(mente). Sorrateira(mente), entre o prazer e a dor, reveste de significados o que me rodeia. Se não, onde vou buscar palavras de amor e saudade?
 


2 comentários:

  1. Belo texto Sergia, suave, sincero e reflexivo...preciso voltar aqui mais vezes! PARABENS!

    REGINALDO

    ResponderExcluir
  2. Obrigada. É uma grande alegria saber que o outro encontra significado no que escrevemos. Volte, será sempre bem-vindo!

    ResponderExcluir

Obrigada pela visita! Volte sempre.