sábado, 22 de setembro de 2012

Desejo de Renovação

 
Sonho verde amarelo, por  Sergia A.


Um dia desses uma amiga postou no facebook um desejo: precisava de um outono. Lembrei de um texto que escrevi aqui sobre a simbologia dessa estação e a universalidade da conduta humana em dadas circunstâncias. Hoje quero estendê-lo aos seres da natureza. Às vezes somos irremediavelmente iguais. Talvez um traço da evolução. Afinal, reagir a seus estímulos foi o que nos garantiu a vida e os avanços da inteligência. Somos fortemente influenciados por seus movimentos. Talvez por isso, eu tenha despertado no meio da noite com um desejo incontrolável: preciso de primavera.  

Estou cansada dessa paisagem cinza, sem cor. Falo da névoa seca e empoeirada que nos reveste durante seis longos meses. Desse ar pesado das tardes sem brisa. Sonho com nuvens carregadas e com a exuberância do verde que as chuvas trazem. E hoje, do nada, acordei querendo ser surpreendida por um céu azul, folhas e flores dançando enlouquecidas na minha janela.

Viver sem estações é assim. Mas, continuamos repetindo técnicas de sobrevivência. Abençoados pela imaginação, nós seres equatorianos fortalecidos por raios solares incidentes em perpendicular, vivemos a primavera por suposição. Um conceito abstrato nos anima. Os Ipês bem que tentam nos aproximar dessa materialização. Quanto mais seco o tempo, mais florescem. Belos em sua efemeridade, deixam no ar um desejo de poesia. Quero enfeitar-me de leveza em um gesto de imitação. Antes disso, estendo a mão. Na minha cabeceira, o desejo de ser como as estações de Emily Dickinson vem em meu socorro, em um urgente exercício de tradução:


The morns are meeker than they were –
The nuts are getting brown –
The berry’s cheek is plumber –
The Rose is out of town.

The Maple wears a gayer scarf –
The field a scarlet gown –
Lest I should be old fashioned
I’ll put a trinket on.
 
(Emily Dickinson, in Poemas Escolhidos, 2007)

 ***

As manhãs mais brandas agora –
As nozes ganham cor –
Repletos estão os gomos –
A Rosa sem rumor

O Bordo usa um lenço vistoso –
Os campos vestem rubor –
Para não ficar de fora
Um adorno irei por.
 
(Tradução:  Sergia A.) 

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