sábado, 8 de fevereiro de 2014

Quem tem medo de Sylvia Plath?

      
 Axes                                               
  After whose stroke the  wood rings
And the echoes!                              
Echoes traveling                             
Off from the center like horses.      

(Sylvia Plath, in  Words, 1963)  

Noite adentro,  por Sergia A.
                         

Vento forte no vidro da janela. Um céu nublado, trovoadas e Sylvia Plath ao meu alcance. Uma pequena seleção de poemas que me acompanhou na viagem de volta no ano passado. Meses depois a devoro aos pouquinhos. Como se faz com a porção de doce permitida nas dietas. Claro que posso abocanhar, no meio da noite, outras porções em websites a ela dedicados. Mas, não devo exagerar. Além disso, ainda gosto do cheiro de livro. É preciso tê-lo na mão para sentir o seu peso. Carregá-lo comigo como se aquilo tudo me pertencesse, ainda que por instantes. E aqui ele está, escorrendo por entre dedos como a chuva lá fora.


Há alguns anos o medo me impedia de encarar a brutalidade de suas palavras. Machados ecoando golpes afiados. E eis que as encontro na estrada anos depois. Aceito a provocação. Imponho-me mais uma vez o exercício libertador. Talvez a única forma de redenção...

Mary's Song

The Sunday lamb cracks in its fat.
The fat
Sacrifices its opacity. . . .

A window, holy gold.
The fire makes it precious,
The same fire

Melting the tallow heretics,
Ousting the Jews.
Their thick palls float

Over the cicatrix of Poland, burnt-out
Germany.
They do not die.

Grey birds obsess my heart,
Mouth-ash, ash of eye.
They settle. On the high

Precipice
That emptied one man into space
The ovens glowed like heavens, incandescent.

It is a heart,
This holocaust I walk in,
O golden child the world will kill and eat.
(Sylvia Plath, in Poems selected by Ted Hughes p.66. Escrito em 1962 e originalmente publicado em Winter Trees, 1971)
 


Canção de Maria

O cordeiro de domingo estala em sua gordura.
A gordura
Sacrifica sua opacidade...


Uma vidraça, ouro sagrado.
O fogo o faz precioso,
O mesmo fogo


Derretendo sebos hereges,
Expulsando judeus.
Espessos mantos flutuantes


Sobre a cicatriz da Polônia, destruída
Alemanha.
Eles não morrem.


Aves escuras turvam meu coração,
Na boca, cinzas; cinzas dos olhos.
Elas pousam. No mais alto


Precipício
Que despejou um homem espaço a dentro
Os fornos brilharam como céus, incandescentes.


Assim é um coração,
Esse holocausto em que caminho,
Oh criança dourada que o mundo vai devorar.


(Tradução: Sergia  A.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita! Volte sempre.