terça-feira, 26 de julho de 2011

Por que Amy deve morrer?


And life is like a pipe
And I'm a tiny penny rolling up the walls inside .”[1]

(Amy Winehouse in Back to Black)

Recorte de infinito, por Sergia A.

 

Noite de sábado. Risadas e silêncio entre copos de cerveja na noite a céu aberto. As palavras vão e voltam direcionando-se sempre ao ponto central: o brilho e o destino trágico de Amy. Nas apostas, de gosto duvidoso não deveria passar dos 27 anos, como os demais cuja genialidade não suportara o peso de uma vida dita normal, e o olhar para si e para o mundo tornara-se uma intensa agonia. Jimi, Janis, e Jim personificaram os excessos produzidos por uma geração a quem devemos, entre outras coisas, uma revolução nos costumes. Kurt e Amy viveram outro tempo, mas cada geração traz a sua própria dor e os ícones da sua angústia.

Conheci a arte marcada pela voz poderosa de Amy quando ganhei de presente de uma menina de sua geração uma gravação em mp3, com faixas dos discos Frank e Back to Black. A menina tatuada, de aparência despojada e bem distante do padrão ditado pelo cultuado mundo fashion era extremamente inteligente e com grande talento para o trabalho especializado que desenvolvia como estagiária no Banco. Era fã de Amy e isso criou um elo entre nós fortalecido pelas longas conversas que seu gosto pela música que dialogava com os clássicos da black music americana proporcionou. Seu tempo no Banco acabou. Ficou a doce lembrança da menina solitária que tentava afogar nas baladas uma história de vida bem maior e mais pesada que seus anos. Compreendi que Amy, de certa maneira, materializava essa angústia que se apodera da sutileza que diferencia.

Como em um filme que vemos muitas vezes, conhecemos de perto as personagens e as tramas que compõem o enredo, e de certa forma vivenciamos o dilema do autor/diretor ao decidir se a personagem deve viver ou morrer. A vida da personagem torna-se insustentável quando preencher as horas do seu dia na trama é um passo no escuro ou quando a mudança de tamanho é tão abrupta que o tempo do filme não  comporta a ousadia. Seguindo o roteiro Amy não poderia viver.

24/07/2011
[1] Uma possível tradução:  “E a vida é como um cano / e eu sou uma minúscula moeda rolando parede adentro.”

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