domingo, 7 de agosto de 2011

Descomeço

O futuro não está fora de nós
            mas dentro
            como a morte
            que só nos vem ao encontro
            depois de amadurecida
            em nosso coração.
            E no entanto
                                   ainda que unicamente nossa
                                   assusta-nos. [1]


A grande causa do mundo contemporâneo parece ser o direito de ser feliz. Acabo de ler em uma revista semanal a notícia de que a ONU aprovou resolução que reconhece a busca da felicidade como uma aspiração universal. Entendendo a abrangência do tema e concordando plenamente com seu propósito, hoje nado contra a corrente e peço licença para ter o direito de deixar que uma lágrima molhe o meu rosto e que meu olhar se distancie.

Havia programado para esta data uma postagem especial que lembrasse os ritos de passagem, marcando o alvorecer do primeiro ano da segunda parte da minha vida. O texto deveria ter o tom alegre e eufórico das conquistas, pois neste ensolarado 07 de agosto tem início uma contagem regressiva de 365 dias para o fim de um contrato que direcionou os rumos da primeira parte. Uma gestação de 52 semanas, com direito a uma intensa retomada daquilo que nutre e move minha energia vital. Uma preparação para uma nova jornada. No entanto, como diz a voz que alimenta minha alma neste instante, as surpresas são componentes importantes delas.

A despedida de um amigo, subitamente imposta na manhã de ontem, muda a cor desse discurso. Talvez um trágico toque de realidade necessário ao entendimento de que não há começos sem um fim que o antecede, e de que os fins sempre se vestem de tons acinzentados, embora seja a perspectiva desse fim que nos faça perceber os tons multicoloridos do percurso. Talvez uma forma de lembrar que este começo que ora planejo só é possível porque não estava sozinha no trajeto que agora entra em reta final. Ao meu lado caminharam pessoas cujo convívio impulsionou atitudes, alargou horizontes e permitiu o crescimento que só acontece quando olhamos de perto o diferente e aprendemos a domar o ego em respeito à visão do outro. Talvez uma forma de lembrar que observar a natureza foi o método encontrado pelo homem para se descobrir parte dela e se reinventar seguindo seus movimentos cíclicos, capazes de criar na mente humana a acalentadora sensação de que tudo pode recomeçar.

Amanhã, o futuro que se fortalece dentro de mim contará esse dia como passado e certamente meu olhar, não mais embaçado, terá como foco um renascimento em busca da felicidade.


[1] Ferreira Gullar in Em alguma parte alguma

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