domingo, 21 de agosto de 2011

Da série O laboratório: Autômato

Escrever é procurar entender,
é procurar reproduzir o irreproduzível,
é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. [1]



9h. Uma senha, um enter, um F2: entrada registrada com sucesso. Bons dias sonolentos dão o tom da manhã e, muito mais que uma expressão de desejo, cumprem o ritual. Computadores entram em rede enquanto o gerente passa adiante o entusiasmo que sacodiu sua madrugada. Leitura de mensagens no e-mail, faxina na caixa postal, revisão de agenda e pendências do dia anterior. Lá se foram os lentos 50 minutos iniciais de aquecimento. 10h. Abrem–se as portas. Clientes ávidos pelo atendimento suspenso há longas horas fazem filas. O som das vozes sonolentas, aos poucos, cede lugar ao murmurinho das solicitações, das queixas, das fofocas, das negociações entre águas e cafezinhos. A agitação se instala dando novo ritmo às batidas das teclas e aos ponteiros do relógio que acelerados, repentinamente, indicam a hora do almoço. Um último aperto de mão, um sorriso amarelo ao insistente que retarda o cheiro de frango grelhado do self-service da esquina. Café e bala de menta devolvem o ritmo dando a largada para o segundo ciclo. O gerente chama, o colega pede ajuda, o cliente reclama, uma cópia, um sinal de fax, uma voz que se altera, um documento se perde e se encontra entre toques estridentes do telefone mantendo o devido compasso entre o stress e o alívio. 16h. cerram-se as portas ao som irritado das vozes atrasadas que perderam aquele precioso último minuto. As teclas continuam seu ritmo acelerado. Mãos apressadas fecham as operações do dia correndo contra o tempo que ainda resta. Uma piada, um comentário maldoso lançado do fundo da sala enrubesce a presença de saias retas e comportadas. Gargalhadas ecoam quebrando a sobriedade do ambiente vazio. 17h30. Mãos delicadas erguem a persiana. A inclinação que garantiu os 40º do meio-dia oferece agora uma nova cor. Raios rubros e audaciosos traspassam o vidro da janela corrompendo o cinza para devolver aos humanos o espetáculo da vida. 18h. Uma senha, um enter e um F2: o registro da saída.9h. Uma senha, um enter, um F2: entrada registrada com sucesso. Bons dias sonolentos dão o tom da manhã e, muito mais que uma expressão de desejo, cumprem o ritual. Computadores entram em rede enquanto o gerente passa adiante o entusiasmo que sacodiu sua madrugada. Leitura de mensagens no e-mail, faxina na caixa postal, revisão de agenda e pendências do dia anterior. Lá se foram os lentos 50 minutos iniciais de aquecimento. 10h. Abrem–se as portas. Clientes ávidos pelo atendimento suspenso há longas horas fazem filas. O som das vozes sonolentas, aos poucos, cede lugar ao murmurinho das solicitações, das queixas, das fofocas, das negociações entre águas e cafezinhos. A agitação se instala dando novo ritmo às batidas das teclas e aos ponteiros do relógio que acelerados, repentinamente, indicam a hora do almoço. Um último aperto de mão, um sorriso amarelo ao insistente que retarda o cheiro de frango grelhado do self-service da esquina. Café e bala de menta devolvem o ritmo dando a largada para o segundo ciclo. O gerente chama, o colega pede ajuda, o cliente reclama, uma cópia, um sinal de fax, uma voz que se altera, um documento se perde e se encontra entre toques estridentes do telefone mantendo o devido compasso entre o stress e o alívio. 16h. cerram-se as portas ao som irritado das vozes atrasadas que perderam aquele precioso último minuto. As teclas continuam seu ritmo acelerado. Mãos apressadas fecham as operações do dia correndo contra o tempo que ainda resta. Uma piada, um comentário maldoso lançado do fundo da sala enrubesce a presença de saias retas e comportadas. Gargalhadas ecoam quebrando a sobriedade do ambiente vazio. 17h30. Mãos delicadas erguem a persiana. A inclinação que garantiu os 40º do meio-dia oferece agora uma nova cor. Raios rubros e audaciosos traspassam o vidro da janela corrompendo o cinza para devolver aos humanos o espetáculo da vida. 18h. Uma senha, um enter e um F2: o registro da saída.


[1] Clarice Lispector

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