sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O Valor do Afeto

 
O retrato


Havia um retrato em preto e branco pendurado na parede da sala de estar. Seu olhar me acompanhava pelos corredores. Seu olhar capturava minhas intenções de travessuras. Seu olhar me censurava. Seu olhar me acalentava. Isso me vem à mente agora, repentinamente, quando leio em uma revista um artigo sobre as polêmicas decisões judiciais quanto a ineficácia da indenização por dano afetivo nos processos movidos por filhos contra pais ausentes, pelo entendimento de que a indenização não restabelece o afeto perdido.

O universo de pais e filhos e a corajosa busca pelo afeto perdido é também o que retrata o documentário Meu Arquiteto (2003), do cineasta Nathaniel Kahn, sobre a vida e obra do arquiteto Louis Kahn (1901-1974). Falando de arte e amor, o filme é um mergulho profundo na obra para compreender o homem. Um mergulho capaz de promover o encontro do filho com o pai 25 anos após a morte deste, a partir de uma necessidade do filho de entender a ausência do pai durante os 11 anos que poderiam ter convivido.




Três realidades distintas alinhadas pela mesma ausência. Três formas distintas de buscar a recomposição de uma relação de afetividade interrompida. Assim como o documentário, a lembrança do retrato na parede é a materialização da reaproximação que alguns de uma maneira tosca buscam na justiça. Fica, no entanto, a certeza de que o valor do afeto está nos laços que podem ser construídos em cada manhã, desde que estejamos abertos para a vida.

Feliz Dia dos Pais!

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