sábado, 17 de setembro de 2011

The Great Gatsby: da Euforia do Sonho ao Império do Medo


Versão Cinematográfica de The Great Gatsby (1974) por Jack
Clayton com roteiro de Ford Coppola.
Fonte: Youtube


O sol escaldante de setembro toma conta dos nossos dias. Se não fossem os Ipês e alguns heróicos Caneleiros oferecerem cor à paisagem não sei o que seria desse início acinzentado de primavera sem orvalho nas manhãs. Explica-se: depois do feito de Bin Laden, setembro ganhou ares de marco histórico e parece ter esquecido que aqui logo abaixo do equador esperamos que ele cumpra o seu papel natural de trazer uma florada cuja beleza seja capaz de nos retirar dos ambientes fechados dos condicionadores de ar. Pois foi numa dessas tardes em que para fugir do calor e das inúmeras análises repetitivas do 11 de setembro resolvi me trancar em um ambiente bem refrigerado e reler The Great Gatsby , o retrato da “América” dos anos 1920 desenhado por F. Scott Fitzgerald.

Um clássico, independente do tempo decorrido da sua escrita, sempre encontra formas novas de tocar o leitor que vive em outros tempos. Neste setembro, uma década depois do trágico feito, não há como ler The Great Gatsby sem fazer uma atualização dos seus temas. O fim da primeira guerra mundial, com a Europa em ruínas, ofereceu aos Estados Unidos da América um tempo de euforia dando inicio ao consumo descontrolado incentivado por uma economia liberal, sem fundamentos sólidos, que foi incapaz de evitar o fim trágico representado pela quebra da bolsa de valores em 1929. Descrevendo a euforia dos primeiros anos da década, o livro traz um narrador ora onisciente ora personagem que nos conta e reflete sobre os acontecimentos de um verão em Nova York. Seus personagens arrogantes, consumistas e infelizes constroem na trama relações tão vazias quanto a futilidade de suas vidas. O personagem central, que dá o título à obra, o rico “self-made” Jay Gatsby, materializa o que a America representava: opulência vista à distância, uma aparência que encobria o conteúdo fluido, desconhecido, onde se sustentava a sua riqueza. Em um exercício futurista o autor dá a Gatsby um fim trágico, como trágico seria o fim da frágil economia americana e sua bolha especulativa alguns anos depois.

Mais tarde a América, como seus filhos a denominam apropriando-se da simbologia do continente quando da sua descoberta, novamente às custas de uma guerra e de uma Europa destruída encontraria caminhos para fortalecer sua economia transformando-se na potência imperialista responsável por tantos desequilíbrios mundo afora. No entanto, como Gatsby, os pilares que lhes dava sustentação demonstraram toda sua fragilidade diante de um inimigo poderoso: o terror. Para combatê-lo, a potente economia americana foi destruída na era Bush e a primeira década do novo milênio viu novamente uma bolha especulativa ameaçar o mundo desnudando a insustentabilidade do “american way of life”. Tudo poderia se resumir a mais uma das inevitáveis crises do capitalismo previstas por Marx, não fora o medo implantado em suas mentes que os obriga agora a rever sua posição unilateral com um mundo que parece não mais aceitar os desmandos de um sistema imperialista.

O personagem central do livro morre no fim daquele verão. Um setembro marca o seu epílogo embalado pelas reflexões do narrador que decide retornar ao centro, o lugar de onde veio, em busca de relações verdadeiras para se reerguer. Um setembro da nossa era também impôs a morte moral de um modelo, e traz consigo a mesma necessidade de olhar para o próprio umbigo, e quem sabe renascer em um próximo verão. Enquanto nós, abaixo da linha do Equador, em tempos de economia globalizada, torcemos por setembros floridos, repletos de pétalas orvalhadas.

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